Por que inserir pessoas trans na sua empresa?
A necessidade de políticas públicas e de conscientização da sociedade é indiscutível. O Brasil não possui uma legislação específica para a inclusão do grupo trans, o que torna o problema ainda mais evidente.
É preciso a implementação de políticas públicas que tenham por objetivo a efetivação dos direitos civis, políticos e sociais das travestis e transexuais. Além disso, a expectativa de vida de pessoas trans é menor que as demais, cerca de 35 anos. Por esse motivo, elas precisam da inserção no mercado.
Pensando sobre esse tema, vamos tratar aqui sobre como sua organização pode auxiliar pessoas trans, a partir de sua contratação e inserção no mercado de trabalho.
Quem são as pessoas transgênero?
Mesmo com o fácil acesso à informação, ainda há muito desconhecimento em relação ao que envolve gênero, identidade e sexualidade.
Entenda conceitos básicos, sendo eles fundamentais:
- Identidade de gênero: se trata do sexo com o qual se identifica (exemplo: homem, mulher, não-binário, etc.);
- Sexualidade: é relativo aos interesses sexuais (exemplo: heterossexual, homossexual, bissexual, pansexual, etc.);
- Cis gênero: são pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi designado ao nascer (exemplo: foi dado como mulher ao nascer e identifica-se como mulher);
- Transgênero: são pessoas que se identificam com um gênero diferente daquele designado quando nasceram (exemplo: foi dado como mulher ao nascer, porém, identifica-se como homem);
- Não-binários: pessoas que se identificam com um gênero diferente de homem ou mulher, podendo ser agênero (nenhum gênero), bigênero (dois gêneros em simultâneo), fluido (que flui entre um e outro), etc.
Quais são as dificuldades encontradas pelas pessoas transgênero no mercado de trabalho?
As dificuldades que as pessoas transgênero encontram no mercado de trabalho são incontáveis. Isso se deve a motivos relacionados ao preconceito e à ignorância sobre o assunto.
Não é incomum que os próprios recrutadores perpetuem esse tipo de preconceito. Que pode ocorrer de forma perceptível ou não, quando estes performam atitudes excludentes de forma velada e até mesmo inconsciente.
É frequente que essa pessoa sofra transfobia pelo fato de o recrutador (e outros membros de uma empresa) não reconhecerem a sua identidade, e também por não saberem lidar com ela ou como tratá-la.
Seja por transfobia ou por falta de tato, preferem recusar a vaga para esse profissional e buscar outro que se ‘adequa’ melhor aos padrões de sociedade, considerando que isso será fácil e mais aceito.
Devido a tantos obstáculos para conseguir um emprego formal, é muito comum que pessoas transgênero vivam em situação de rua, recorram a prostituição, ou optem por práticas suicidas, que tem aumentado nos últimos tempos segundo dados são da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, a Antra.
No primeiro semestre de 2019, foram registrados 12 suicídios de pessoas transgênero no Brasil. Em 2020, foram 16 suicídios registrados – um aumento de 34% em relação ao mesmo período no ano anterior.
Outro ponto é que, quando conseguem adentrar o mercado de trabalho, sofrem com tratamentos negativos, desrespeito ao nome social, exclusão e falta de apoio psicológico.
Por que recrutar pessoas transgênero?
Diversidade
A diversidade é fundamental no mundo moderno e o mercado de trabalho não é exceção. Ela é importante socialmente e traz enormes benefícios às próprias empresas que a adquirem e tomam providências para colocá-la em prática.
É preciso entender que o mundo é feito de diversidade, e está fora do controle de todas as empresas quem seu produto irá atingir.
Com isso, incentivar e praticar a diversidade é benéfico para a questão social, promovendo inclusão, assim como para a questão de “marketing”, já que evita que seu produto acabe por, por exemplo, publicar uma propaganda que seja preconceituosa, o que pode prejudicar as vendas.
Além disso, não só o transgênero no mercado de trabalho se beneficia com isso, mas também outras pessoas diversas, como raça, sexualidade ou outras questões.
Inovação
Empresas diversas apresentam ideias e melhorias diversas. Estudos de mercado mostram que, quanto mais diversificada for um time, maiores as chances de inovar no mercado ou achar formas mais práticas de realizar suas atividades.
Além disso, quanto menor o preconceito da empresa na hora de fazer recrutamento e seleção, menores as chances de que ela perca a oportunidade de contratar excelentes profissionais e grandes talentos, que poderiam estar agregando muito para o seu crescimento.
Isso acaba levando ao aumento da produtividade e do produto final. Todos esses fatores juntos resultam no aumento do lucro e no crescimento empresarial.
Diminuição do turnover
Outro fator importante que resulta da inclusão de pessoas transgênero no mercado, é que ajuda a diminuir a rotatividade, o turnover.
As pessoas sentem que estão sendo mais acolhidas pela empresa e a entenderem que aquela é uma corporação onde há espaço para crescerem.
Assim como o modo de consumo das pessoas mudou, e agora exige posicionamentos sociais das marcas, assim também aconteceu com a forma que as pessoas enxergam o ambiente de trabalho. Os profissionais esperam e gostam de se identificar com a empresa onde trabalham. Afinal, se acreditarem na empresa e no produto, sua produtividade aumenta muito!
Como recrutar pessoas transgênero?
É necessário entender a melhor forma de atrair esses profissionais e criar um ambiente que os incluam de verdade.
Algumas estratégias que podem auxiliar a sua empresa:
- Treine líderes para que entendam a importância da inclusão de pessoas transgênero, quais são os tratamentos corretos e como criar um ambiente de igualdade e equidade;
- Prepare seus times, educando-os e promovendo palestras e rodas de discussão sobre a importância da inclusão e dos direitos sociais;
- Crie canais de comunicação internos, que objetivem unir pessoas que fazem parte de grupos que sofrem preconceito, para poder criar uma rede de apoio interna;
- Crie a política de ouvir as pessoas diversas de sua empresa. Aprenda com elas e aplique sugestões recebidas;
- Faça programas de treinamento próprios para capacitar pessoas transgênero e auxiliá-las a preencher uma vaga na empresa;
- Ofereça apoio psicológico, seja através da contratação de um profissional de Psicologia para acompanhar no dia a dia e gestão, ou através do oferecimento de um beneficio, como Bolsa Psicólogo;
- Ofereça benefícios específicos de adaptação e oferte flexibilidade.
Erros para se evitar no recrutamento e seleção
É importante se atentar para evitar erros que são normalizados e que tendem a afastar pessoas transgênero no mercado de trabalho.
Todos os setores da empresa precisam estar preparados para conviver com a diversidade. Isso vale desde o processo seletivo até a entrada de novos colaboradores e todo seu desenvolvimento interno.
Desrespeito pelo nome social, pronome e identidade de gênero
É primordial que os recrutadores e todos na empresa respeitem o gênero com o qual o colaborador trans se identifica. Isso inclui o nome social e o pronome. Outro ponto importante são os documentos da empresa (crachá, ficha de registro, ontrole de ponto e outros).
Eles devem respeitar o nome social e não o de registro de nascimento. Atente-se a perguntas invasivas ou comentários desrespeitosos de todos os setores da empresa, sendo uma boa ideia fazer uma repreensão se isso acontecer.
Indagações sobre cirurgias
É uma escolha de cada pessoa fazer mudanças físicas ou não, conforme o gênero que se identifica. Uma pessoa transgênero não necessariamente precisa da cirurgia para ser trans.
Esse é um ponto pessoal que não cabe a ninguém questionar, além de ser uma pergunta que é normalmente considerada muito pessoal. Cabe à pessoa decidir se quer falar sobre aquilo ou não. A iniciativa dessa conversa deve partir dela.
Perguntas sobre seus corpos
A empresa deve tratar do colaborador segundo o que ele se apresenta atualmente e sua identificação. Jamais devem ser levantadas questões sobre seus corpos, órgãos e autoimagem.
Ninguém chega para uma pessoa cis gênero e questiona seus corpos. Logo, não faça isso com pessoas transgênero. De novo, não cabe a ninguém além da própria pessoa entrar no assunto.
Possuindo uma política de Recursos Humanos inclusiva
O mais fundamental e importante é colocar em prática uma política não-discriminatória e anti assédio, o que não necessariamente implica no âmbito sexual. Comentários ofensivos, perseguição com carga de trabalho e mesmo tratamento diferente é sim, considerado assédio.
Uma política de RH mais inclusiva significa, por exemplo, que uma pessoa trans possa ter acesso à terapia de hormônios pelo plano de saúde da empresa. Se não for o caso, essas pessoas terão benefícios diferentes de seus colegas cis gêneros.
Também existem maneiras de uma organização apoiar as pessoas que estão em transição no ambiente de trabalho, como simplificar a mudança de nome nos documentos da empresa ou permitir que expressem seu gênero conforme o código de vestimenta que fizer sentido para elas.
Da mesma forma, é essencial investir na conscientização do time, para que abracem a inclusão e ajam com respeito. Isso pode ser feito:
- oferecendo workshops e palestras que abordem o assunto da transgeneridade, ministrados por pessoas trans;
- contratando empresas de consultorias LGBTQIA+ especializadas em orientar empresas sobre a aplicação de práticas inclusivas;
- adotando uma política de portas abertas que ofereça de fato acolhimento adequado se ocorrer casos de preconceito na empresa e divulgar amplamente entre os colaboradores;
- adotando o uso dos Nomes Sociais em crachás, sistemas, e-mails e demais meios de comunicação entre colaboradores e empresa, divulgando essa possibilidade para todos;
- implementando políticas de contratação de pessoas trans, determinando uma porcentagem mínima de profissionais trans que devem trabalhar na empresa, o que pode causar um grande impacto social;
Conclusão
A luta e evolução da construção de uma sociedade mais justa e igualitária precisa melhorar muito, incluindo no mercado de trabalho. Ainda são muitos os casos de discriminação e preconceito com pessoas transgênero, o que impede o processo de entrada das mesmas no mercado de trabalho formal.
Valorizando a diversidade, mais especificamente, a diversidade sexual, se reconhece que há pessoas que desqualificam, ridicularizam, intimidam e atacam a moral e a sua autoestima, até que haja mudanças no planejamento estratégico do negócio.
As empresas que se engajarem na inclusão da diversidade, incluindo a sexual, estarão colaborando para um futuro melhor e com mais respeito no Brasil. Onde há espaço para a diferença, a troca produtiva entre as pessoas e o trabalho é um direito garantido na teoria e na prática a todos os cidadãos brasileiros.